quarta-feira, 2 de abril de 2014


Quintal

O quintal desferrolhado de tardes
Sorria naquele dia
Um riso de varal
A velha que fez
O quinto do céu
Do menino inteiramente
Que via os passarinhos descendo ao chão
Comendo farelos de tempo
Vez em quando um chumaço cheio de azul
Despejava no quintal
O perfume azul nunca mais sairia
O menino gostava dos processos
Da ingravidade do verde
Do silêncio escorrido entre silvos
De nada é feito o ninho
Mas o que mais gostava
Era das dimensões insetais
O aqui, o ali e acolá da axila de uma árvore
Das telhas esquecidas onde o tempo ficava empossado
Fazia inveja o acolá dentro do olho de um pássaro
De cima da antena 
Seta de sol

Vejo por trás de um raio a escuridão
Escuto o silêncio no trovão
Toco o vazio no fundo do mar
E é no fogo que eu vou banhar

Vim de bem longe e trago uma seta de sol
Pra despertar a semente de um sono profundo
Teço meu novelo feito de orbital
Sou ligado a placenta do mundo


Gabriel Medeiros e Samuel Brandão

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Circunscrito


Respeitável público!

O poeta é um palhaço
Nesse circo que pega fogo
O poeta é um palhaço
Que faz graça para o povo

O poeta é um domador
Armodaça lobos
Inclusive
O lobo do lobo do lobo
Se esconde dentro de bocas
Cheia de dentes

Arrebata do público
A aflição do acaso
Entre os bestas e as feras
Preconiza suas quimeras
Depois de toda aflição, vem a graça

Respeitável público!

O poeta é um malabarista
Brinca com espadas, cospe fogo
O poeta é um malabarista
Fazendo de espirais o seu jogo

Arrebata do público
A tensão e o perigo
Em sua dança com a morte
Dentro da palavra
Corre todos os riscos
Depois de toda tensão, vem a graça

Senhoras e senhores!

O poeta é um acrobata
Está sempre por um fio
O poeta é um acrobata
Zomba com seu equilíbrio

Vagueia sem asa pelo céu
Rodopia e se precipita ao infinito
Brinca trôpego pelo fio
Ahh!!! Poetinha arredio

Arrebata do público
A vertigem, o medo do infinito
Todos gritam extasiados
A cada pulo, a cada salto
Depois de toda vertigem, vem a graça

Senhoras e senhores!
O poeta é um palhaço
Nesse circo que pega fogo
O poeta é um palhaço
Que faz graça para o povo

Mas tem quem ache
Que isso tudo é palhaçada
Mas não tem nada, o poeta acha a graça

Uma salva de palmas!

No Espelho


Teseu

Teceu a glória

Por um fio

Por um triz


No labirinto

Matou o mito

Por um fio

Por um triz


Teseu

Teceu a glória

Ouviu o grito

E não temeu


Teseu

Teceu a glória

No labirinto

Matou o mito

Com a espada

De espelho


Teseu

Teceu a glória

Teseu

Teceu a história


Por um fio

Por um triz

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Nado


Para aprender a voar

é preciso

primeiro nadar

Encher o bolso de nadas!

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Cruz na Sala (Pregar)


Morreu
Sinto,
Morreu
Da pior forma...
Vamos ver quem sente mais dor?
Morreu
E você não leu o testamento
Chamou alguém
Profetas lúgrubes, idólatras austeros em seus domínios inalcansáveis
Morreu
Sinto,
Sinto muito amor
Amo por amar
E não pelo porão escuro da história
E não pelo quilo de dor
Glorifico o meu galgar
O teu galgar, virtude após virtude, serpente que se engole e desaparece.
E não esse amor mapeado, maculado, glorificado a marteladas!
Mãe!!!Era um rato nas panelas!
Morreu
Sinto!
Não irei glorifica-lo com essa dor
Nem dar-lhe um susto no primeiro desespero
Amo, não como...Não meço
Desenho nas paredes do manicômio
No teto do meu coração
Mãe!!!! não achei pregos na gaveta!

terça-feira, 3 de novembro de 2009

A Máquina


O chefe
do chefe
do chefe
do chefe
do chefe
do chefe
do chefe
do chefe
do chefe
do chefe
do chefe
é doido do seu chefe