quarta-feira, 2 de abril de 2014


Quintal

O quintal desferrolhado de tardes
Sorria naquele dia
Um riso de varal
A velha que fez
O quinto do céu
Do menino inteiramente
Que via os passarinhos descendo ao chão
Comendo farelos de tempo
Vez em quando um chumaço cheio de azul
Despejava no quintal
O perfume azul nunca mais sairia
O menino gostava dos processos
Da ingravidade do verde
Do silêncio escorrido entre silvos
De nada é feito o ninho
Mas o que mais gostava
Era das dimensões insetais
O aqui, o ali e acolá da axila de uma árvore
Das telhas esquecidas onde o tempo ficava empossado
Fazia inveja o acolá dentro do olho de um pássaro
De cima da antena 
Seta de sol

Vejo por trás de um raio a escuridão
Escuto o silêncio no trovão
Toco o vazio no fundo do mar
E é no fogo que eu vou banhar

Vim de bem longe e trago uma seta de sol
Pra despertar a semente de um sono profundo
Teço meu novelo feito de orbital
Sou ligado a placenta do mundo


Gabriel Medeiros e Samuel Brandão